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21 fevereiro 2006

Annie Hall



Annie Hall (1977), de Woody Allen, que tomou, no Brasil, o ridículo título de Noivo nervoso, noiva nervosa, é, sem dúvida, um dos melhores filmes do realizador - o recente Ponto final (Match point, 2005) também se enquadra no panteão alleniano. Allen está inspiradíssimo nesse filme, que reflete muito bem os modismos da intelectualidade nos anos 70. Filme sobre o amor e a ilusão do amor, reflexão sobre os dilemas dos relacionamentos humanos, veículo para Diane Keaton, a amada, na época, do diretor, visão irônica da intelectualidade novaiorquina, Annie Hall é também um filme sobre o cinema. Já com quase 40 anos - parece que o vi ontem, o que faz imperativo a exclamação: "Ó tempo, suspende o teu vôo".

Com exceção de Desestruturando Harry (1997) e Quero dizer eu te amo, ou, talvez, Celebridades, Allen passou a última década fazendo um filme atrás do outro, sem, contudo, alcançar o nível do passado. Pode-se dizer que o autor de Annie Hall entrou num processo de franca decadência nos últimos tempos. Que não tenha se repetido, não é o caso, pois todo autor de filme se repete, como já disse aqui, mas por falta de inspiração. A redenção veio com Match point, que, se não o redime dos fracassos anteriores, pelo menos ele volta a ser um Allen brilhante como o de A rosa púrpura do Cairo, Zelig, Manhattan, Memórias, e Crimes e pecados - com o qual Ponto final tem alguma afinidade.

A predileção por Ingmar Bergman se faz patente em vários momentos: um cartaz de Face a face na porta do cinema enquanto Allen conversa com Keaton, a alusão a Morangos silvestres (Smultronstallet, 1957), quando Allen, Keaton, e Tony Roberts, passeando por Brooklin, onde o menino Allen passara a infância numa casa debaixo de uma montanha russa, vêem numa mesma tomada o passado de Allen, garoto, com sua família. Assim como o Professor Isaac Bjorg vê, depois de velho, no mesmo plano, a sua meninice, sentado na mesa com seus familiares. O presente e o passado no mesmo plano. Antes de Bergman, porém, quem utilizou o recurso com mais funcionalidade foi um conterrâneo do sueco, Alf Sjoberg, em
Senhorita Júlia.

Impagável, a seqüência da fila do cinema com um pseudo intelectual a fazer digressões sobre Fellini, Marshall McLuhan, e outros, com a linguagem típico do jargão acadêmico. Allen se irrita e diz que ele não entende nada de MacLuhan. Ele se diz professor universitário de festejada universidade americana, mas, de repente, Allen chama o famoso comunicóloco que diz ao professor que, realmente, pelo que ouviu, ele nada entende de suas teorias.

Diane Keaton, nesse filme, lançou até moda com seus vestidos diferentes, com gravata, etc. Annie Hall ganhou vários Oscars, mas Allen esnobou não indo buscá-los, a preferir ficar no seu clube de jazz. No elenco, além da dupla central, Tony Roberts, Shelley Duvall (a magricela que depois seria muito bem aproveitada por Robert Altman - principalmente em Três mulheres e Popeye, e Stanley Kubrick em O iluminado), Sigourney Weaver (ponta quase impercptível), Carol Kane, Paul Simon, Janet Margolin, Christopher Walker (como Duane, irmão de Keaton, sujeito meio aloprado, que depois faria um papel magistral em O franco atirador, de Michael Cimino, que considero o melhor filme sobre o Vietnã, superior mesmo a Apocalipse Now, de Coppola), Jeff Goldblum (a mosca de Cronneberg), entre outros.