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15 outubro 2009

Versão digital está a deturpar os filmes


Marcelo Miranda, um dos melhores críticos de sua geração, envia-me uma denúncia que considero gravíssima e que está publicada no Blog do Polvo. As versões digitais estão a deformar e deturpar os formatos originais dos filmes. Um crime. Uma intromissão indevida na integridade da obra cinematográfica. Aproveito, por falar em Marcelo Miranda, para recomendar, aqui, um ensaio de sua autoria sobre o cineasta Johnnie To publicada na excelente revista eletrônica Contracampo em sua última edição.

O
Fórum da Crítica, entidade virtual que reúne dezenas de profissionais da reflexão cinematográfica de todo o Brasil (e na qual diversos polvos estão incluídos), divulgou uma carta aberta em protesto à péssima qualidade das recentes projeções digitais no circuito de cinema brasileiro. Abaixo, segue reprodução integral do texto e, logo adiante, um link para quem quiser contribuir com o abaixo-assinado virtual, a ser encaminhado aos responsáveis. Vejam nas duas imagens da Santa Ceia o que acontece com a projeção digital. A primeira é a deturpada.

CARTA ABERTA AOS RESPONSÁVEIS PELA PROJEÇÃO DIGITAL NO BRASIL
A projeção digital chegou ao Brasil com a missão de democratizar o acesso aos filmes e libertar os distribuidores da dependência de cópias em 35 milímetros, cuja confecção e transporte são notoriamente caros. A instalação de projetores digitais permitiria ao público assistir a títulos que dificilmente seriam lançados nas condições tradicionais e ainda ofereceria condições para que espectadores situados longe do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram quase 50% das salas de cinema do país) tivessem acesso aos mesmos títulos simultaneamente.
O que estamos vendo, no entanto, é uma total falta de respeito ao espectador no que se refere à exibição do filme propriamente dita. As razões são basicamente duas: projeções incapazes de reproduzir fielmente os padrões de cor e textura da obra e/ou projeções incapazes de exibir os filmes no formato em que foram originalmente concebidos. Sem falar no som, que muitas vezes ganha uma reprodução abafada, limitada ao canal central, muito diferente de seu desenho original.

A adoção da projeção digital pelos dois maiores festivais internacionais do Brasil (o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo) e por outros festivais do país, infelizmente, não respeitou o que seriam critérios mínimos de qualidade de projeção de filmes em cinema – algo que é observado com atenção em qualquer festival internacional que se preze. Trata-se de uma situação particularmente alarmante tendo em vista o papel de formadores de plateia que esses eventos desempenham.

Não nos cabe, aqui, pregar a “volta ao 35mm” nem defender determinada resolução mínima para a projeção digital. Sabemos que, se respeitados determinados critérios técnicos – ou seja, se a empresa responsável pela projeção digital receber do distribuidor o master no formato adequado, se o processo de encodamento for feito corretamente e se os ajustes necessários para a exibição de cada filme forem realizados cuidadosamente –, a projeção digital pode ser uma experiência perfeitamente satisfatória para o espectador.

Não é isso, porém, que tem ocorrido. Exibidores, distribuidores e os fornecedores do serviço da projeção digital são responsáveis pela má qualidade da projeção e coniventes com esse lamentável descaso geral, que tem deixado críticos e amantes de cinema indignados. É um desrespeito ao cinema e aos seus criadores, mas, sobretudo, ao espectador e consumidor final, que saiu de casa e pagou ingresso para ver um filme.

A situação chegou a um ponto intolerável. Pedimos a todos os profissionais envolvidos com a projeção digital que tomem providências para que tais deformações não se repitam. Quem quiser participar do abaixo-assinado por melhores condições da exibição digital, basta clicar aqui para participar da petição on line.

14 outubro 2009

"Doido Lelé" ganha prêmio no Festival do Paraná


Recebo da jornalista e cineasta Ceci Alves, talvez a melhor repórter de jornalismo cultural da Bahia, a seguinte notícia, que é alvissareira:

Após ter ganhado o prêmio de Melhor Edição no
5º Festival Latino Americano de Curta-metragem de Canoa Quebrada, em setembro deste ano, o curta-metragem Doido Lelé, escrito e dirigido pela jornalista e cineasta baiana Ceci Alves, acaba de ganhar o prêmio de Melhor Ator para o ator mirim Vinícius Nascimento (Ó Paí Ó; Capitães de Areia) no 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino. Único curta-metragem baiano a participar do festival, o filme conta a história de Caetano, um garoto que deseja ser cantor de rádio na década de 50 e foge todas as noites de casa para tentar, sem sucesso, a sorte num programa de calouros. Além da categoria em que foi premiado, Doido Lelé ainda recebeu mais sete indicações: Melhor Filme, Direção, Roteiro, Direção de Arte e Fotografia, Montagem e Melhor Atriz.No mesmo festival, Doido Lelé foi elogiado pela atriz Fernanda Montenegro e pelo diretor de documentários Silvio Tendler, grande vencedor do 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, com o longa-metragem Utopia e Bárbarie.

A foto mostra o premiado ator mirim Vinícius Nascimento.

Concurso "Walter da Silveira" tem noite de premiação

Conferência no dia 15 de outubro anuncia os premiados do edital de crítica

Com a presença dos críticos Paulos Santos Lima e João Carlos Sampaio, além do professor e teórico de cinema Luiz Nazario, componentes da comissão de avaliação do Concurso, a Diretoria de Audiovisual (DIMAS), da Fundação Cultural da Bahia, anuncia os premiados do edital 2009. A cerimônia, que acontece amanhã, dia 15 de outubro, às 19h, na Sala Walter da Silveira, também prevê uma conferência com o tema "A crítica como militância". Para fechar a noite, logo após a premiação, será exibido o curta-metragem "Rito de Amor e Morte", do japonês Yukio Mishima.

Serviço
Conferência de premiação do II Concurso Estadual de Crítica Cinematográfica "Walter da Silveira"
Dia 15 de outubro, às 19h
Sala Walter da Silveira (Rua General Labatut, n 27 - subsolo da Biblioteca Pública dos Barris)
Entrada franca

Foto> Walter da Silveira conversa com o cineasta Nelson Pereira dos Santos.

13 outubro 2009

"Clube da Crítica" exibe hoje "O Crítico"

Dentro da programação do 6 Festival Internacional Sala de Arte, acontece o Clube da Crítica, iniciativa pioneira dos organizadores do evento que se propõe a exibir filmes e debatê-los com críticos especializados. O programa de hoje apresenta o documentário inédito de Kleber Mendonça Filho (foto) O Crítico, uma abordagem documentária sobre a crítica cinematográfica e seus críticos. O realizador entrevistou vários exegetas fílmicos internacionais e nacionais. Ainda não tive oportunidade de vê-lo, mas o farei logo mais. O Clube da Crítica está programado às terças, durante o festival, às 20 horas e 30 minutos, no simpático Cinema do Museu (Corredor da Vitória). Os dois primeiros comentadores deste post, segundo prometeu a relações públicas do festival, ganharão um convite grátis. Basta que se identifiquem com seus nomes próprios e procurem, antes da sessão, a promoter Fernanda Bezerra para receber seus merecidos convites.

Kleber Mendonça Filho é pioneiro da crítica cinematográfica na internet com seu valioso site Cinemascópio. Após anos de atividade crítica, quando decidiu registrar as imagens em movimento, conseguiu, de imediato, reconhecimento pelo seu sentido particular de cinema, a exemplo do excelente Domésticas, entre outros. Kleber estará presente hoje, no Cinema do Museu, para debater O Crítico com os espectadores

Para maiores informações sobre a programação completa: http://www.saladearte.art.br/festival/?_page_id=6

12 outubro 2009

Tuna e Cajaíba, "o fazendeiro do ar"

Tuna Espinheira, cineasta baiano, realizador de Cascalho, seu primeiro longa, e mais de duas dezenas de curtas, acaba de voltar de Vitória da Conquista, cidade interiorana da Bahia que realiza todos os anos, nesta época, um exitoso festival de cinema. Tuna não perde tempo e está sempre antenado com as últimas da cinematografia. Ele me informou que O cisne também morre, filme de 1982 que assinala sua primeira incursão no terreno ficcional, foi encontrado. Digo isso, porque, modéstia à parte, tive a honra de ser um dos atores do filme. Vou transcrever, aqui, a mensagem que recebi do realizador.
"Velho, (sim estou velho, pois a fazer, hoje, 59 primaveras - nota de AS)
"Estive na V Mostra Conquita, aproveitei para visitar o museu ao ar livre, concebido, trabalhado, pelo artista plástico, CAJAIBA. Nesta foto estou à beira do túmulo do próprio Cajaiba. Ele conseguiu ser enterrado no cenário em que sempre expos as suas esculturas. Outrora foi um ponto de grande afluxo de visitantes, turistas,artistas, gente das mais variadas espécies. Hoje sobrevive a duras penas, à mercê do abandono do poder público, resistindo graças a dois dos seus filhos, abnegados, cuidando, como podem, daquelas peças, um mostruario de vultos históricos, em tamanho natural, esculpidos em cimento e ferro.
Estou recuperando o filme que fiz, décadas atrás, quando ainda vivia o escultor. Com a parceria dos fotografos, Carlos Rizério (hoje morando em Conquista) e Claude Santos e mais um grupo da comunidade conquistense, planejamos, em tempo, o mais breve possivel, fazer uma exibição, no próprio local, do filme, Cajaiba... Lição de Coisas... O Fazendeiro do AR. A idéia é chamar a atenção sobre o sítio artístico ao Deus dará, com o objetivor de recuperar os estragos imposto pelo tempo e abandono. Caso o referido filme possa vir a ajudar neste sentido, teremos uma cinematografica chance de brindar este acontecimento."
CAJAÍBA, LIÇÃO DAS COISAS...O FAZENDEIRO DO AR foi fotografadopor Antonio Luis Mendes Soares. Roteiro, Montagem, Direção, Tuna Espinheira. Narração de Fernando Coni Campos. Ano de produção: 1976. P&B. 13m.
Forte abraço, Tuna

11 outubro 2009

O Cinema, A Comida, O Comer

Realização do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Alimentação e Cultura (NEPAC), com o patrocínio da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal da Bahia em parceria com a Sala de Arte e a locadora Casa de Cinema, a já exitosa mostra O Cinema, A Comida, O Comer tem nova edição neste ano com três filmes já programados: Delicatessen (já para o próximo dia 27 de outubro, com palestra do cineasta José Umberto), Estômago (17 de novembro, com palestra deste blogueiro), e Ratatouille (15 de dezembro). Todos os filmes serão exibidos na Sala de Arte da Ufba (que fica no Vale do Canela).

A coordenadora do evento é a dinâmica Professor Lígia Amparo, estudiosa do assunto e com um livro já publicado sobre o tema. Lotada na Escola de Nutrição, a Professora Lígia vai muito além nas suas pesquisas, principalmente na procura intertextual do relacionamento entre o comer e as manifestações artísticas, principalmente o cinema, que focalizam o processo nutricional como morte, vida, prazer etc, a depender de cada autor e de cada filme.

Delicatessen, dos franceses Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, realizado em 1991, é uma obra insólita, consagrada quando de seu lançamento em escala mundial. Em um futuro apocalíptico, homem chega a um estranho prédio, localizado em cima de um açougue, para procurar abrigo e emprego. Após instalar-se no local, se apaixona pela filha do dono do estabelecimento, mas sua presença começa a incomodar a família da moça - que, na verdade, possui outros e estranhos planos para ele. Primeiro sucesso de Jean-Pierre Jeunet, que anos mais tarde conquistaria o mundo com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Estômago (2007), de Marcos Jorge, com interpretação inexcedível de João Miguel, ator baiano, é uma fábula bem humorada sobre a comida, o poder e o sexo. Um dos filmes brasileiros mais interessantes da última safra. Já Ratatouille (2007), desenho animado crítico e inteligente de Brad Bird, aborda a comida como beaux arts e a crítica num ensaio de animação original e surpreendente.

Clique na imagem para vê-la ampliada.